Documentário da TV inglesa revela que marcas de apostas esportivas aparecem 700 vezes em partidas de futebol
Em algum momento da sua vida você já deve ter ouvido o ditado popular: “A propaganda é a alma do negócio” – e as operadoras de jogos de azar têm levado isso bem a sério. Um documentário da TV inglesa aponta que as logomarcas relacionadas aos palpites em modalidades esportivas podem aparecer mais de 700 vezes em apenas uma partida de futebol. Uma das participantes da produção de TV é a ex-líder conservadora escocesa Ruth Davidson, que solicita um “repensar radical” na relação entre o futebol e as apostas.
Atualmente trabalhando como apresentadora de TV, Davidson acredita que a indústria do jogo deve sofrer uma reformulação. Essas críticas aos palpites vêm ao ar num momento em que o governo britânico está num processo de revisão das leis de jogos de azar, que deve incluir um exame detalhado dos acordos de patrocínios entre clubes e operadoras.
Estudo
Foi realizada uma análise na Inglaterra utilizando a metodologia criada pelo Dr. Robin Ireland da Universidade de Glasgow, onde observou-se que na partida entre Newcastle e Wolverhampton, dois clubes tradicionais do país, ocorreram 716 exposições aos jogos de azar, onde mais de seis logotipos eram expostos por minuto. Nem no Campeonato Brasileiro, que dentre as principais ligas de futebol do mundo é a que tem mais clubes patrocinados por plataformas ou site de apostas online, esse número é tão alto.
Com isso, o debate sobre os jogos de azar na Inglaterra está cada vez mais acalorado. Davidson alega que as operadoras no país realizam “vendas cruzadas”, já que as plataformas de palpites também costumam convidar os fãs de futebol a experimentarem outros dos seus serviços, como os jogos de cassino. Já um especialista em análise de dados, que preferiu não se identificar no documentário e que já trabalhou para algumas operadoras, afirmou que elas utilizam algoritmos para identificar quais são os gostos do cliente, e assim proporcionar ofertas personalizadas que irão aumentar o engajamento.
Davidson acabou entrevistando John Whittingdale, Ministro de Estado que supervisiona a revisão de jogos de azar no Departamento Digital, Cultura, Mídia e Esporte (DCMS). Segundo Whittingdale, o excesso de publicidade relacionada à jogatina pode causar novas preocupações de saúde pública no país, e que apesar do setor render 3 bilhões de euros em impostos anualmente, essa receita não compensaria esse impacto. E por conta disso é possível que novas restrições à publicidade dessa indústria sejam aprovadas na Inglaterra. Porém, Davidson acredita que não se convenceu de que essas restrições resolverão o problema, já que Whittingdale afirmou que não há estudo comprovando que a quantidade de publicidade leva alguém ao vício.
O documentário apresentado pela TV inglesa foi intitulado de Gambling’s Football Addiction, onde são apresentados os fatos de como a jogatina e futebol têm andado de mãos dadas. Na produção é citada a contribuição anual do setor dos jogos de azar para os cofres dos times de futebol, que ultrapassam os 100 milhões de euros, além de aproximadamente 200 milhões de euros pagos às emissoras.
O outro lado
Um porta-voz do Betting & Gaming Council soltou uma nota em que afirma: “Um estudo recente do Professor Ian McHale, da Universidade de Liverpool, considerou a relação entre o patrocínio do futebol, a participação em apostas e o jogo problemático, e concluiu que não havia evidências de que o patrocínio de clubes ou ligas por apostas os operadores influenciaram a participação nas apostas”. Já a Gambling Commission apresentou um relatório recentemente que sugeria que a taxa de jogo problemático e em risco caiu em 2020. Porém, a entidade ainda afirmou que somente o fato de haver um único jogador problemático já é preocupante e, por conta disso, eles continuarão empenhados em aumentar seus padrões e promover a jogatina segura.